Só ele sabia o que aquele olhar significava. Nem eu tinha certeza. Mas eu sentia, e como sentia. Alguma coisa como um último forçado, dolorido e insuportável olhar. Depois de tantos anos entre tapas e beijos, realmente achei que saberia lidar com ele a ponto de sobreviver ao momento. Mas é claro que eu nunca aprenderia.
Dias depois de lutar contra meus próprios sentimentos, não consegui manter a razão e acabei sendo impulsionada por ele enquanto conversávamos.
Nos encontramos perto de casa e ele me levou para a dele, onde poderíamos ter um pouco de privacidade. Não tínhamos idéia do que aconteceria, mas isso tornou tudo bem melhor, e foi inesperado, surpreendente, insano e bem prazeroso.
Após suor e suspiros, vieram as lágrimas. Novamente, suspiramos abraçados. Tudo parecia tão certo, enquanto tentava acalmar a voz que gritava dentro de mim pra deixar aquele idiota sozinho, que era como ele merecia ficar, e seguir meu rumo. Mas eu não queria. Sabia que o amava, e sabia que, do seu jeito confuso e atrapalhado, ele me amava também.
Ninguém disse nada, porque não era necessário. Nossos olhares falavam por nós e eu quase deixei tudo pra trás pra eternizar aquele abraço. Não era possível. “Não sou mais uma criança e essa viagem está marcada a meses...” e, pela primeira vez naquele dia, a razão vigorou e fui me vestir.
Passamos em casa e peguei minha mala.
No caminho pro aeroporto, o silêncio engolia as horas felizes que tínhamos passado e impulsionava um luto antecipado. No aeroporto, andava para a sala de embarque como um condenado que caminha para a forca, agarrada à mão dele, que quase tremia.
Era a hora. Soltei sua mão e nos atraímos em outro abraço apertado que durou mais de dois minutos. Passei pelo portão e ele ficou lá, observando a sala de embarque com os olhos cheios d’água.
Quando entrei no avião, olhava pro “bobódromo”, onde os familiares ficavam igual bobos dando tchau pra seus parentes. Tinha um bobo muito especial naquele dia, que eu não via naquele lugar desde que terminamos da última vez.
Oito meses passariam depressa. Era com isso que eu contava.
Decolando, vi a pequena e chorosa silhueta que observava a aeronave de longe e mandei um beijo, mesmo sabendo que ele não veria. Então parei de tentar segurar o choro. E eu chorei muito.
Já estava nas nuvens quando me senti descendo pro inferno que seria aquela viagem tão inoportuna. “Logo agora que a gente ia se acertar...”
Fechei os olhos e tinha a imagem dele em meus braços. Esbocei um sorriso em meio às lágrimas que continuavam caindo.
Eu o tinha de novo. E estava tudo bem naquele momento.
Eu iria voltar para ele. Para nós.

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