
Os jovens sempre precisaram de algo que suprisse suas vidas infelizes e limitadas, qualquer coisa que os inspirasse e os levasse a ser pessoas diferentes. Cronologicamente falando, desde Beatles e Michael Jackson, a, infelizmente, Justin Bieber e Crepúsculo, o fanatismo tem tomado as rédeas da juventude.
O mais recente fenômeno literário e cinematográfico, a Saga Crepúsculo, de Stephanie Meyer tem levado o mundo à loucura, num alvoroço de âmbito quase assustador.
Na semana passada, a história sobre vampiros, lobos e uma menina insegura levou milhares de fãs ao cinema, e até a acampar para aguardar a Premiere do filme e dar suporte aos atores e personagens (hã?).
Os críticos de plantão (também chamados de “odiadores de modinhas”) dizem que a Stephanie Meyer mudou toda a concepção de “vampiros” ao escrever a Saga. O vampirismo herdado do antigo Egito ressalta uma criatura cruel, morta e sem sentimentos, que não se assemelha em nada com a família Cullen criada pela autora. Edward é um vampiro que brilha no sol, lê mentes e se apaixona (hã?). Um dos argumentos frequentemente utilizados (tanto por “lovers” quanto por “haters”, o que tona a situação no mínimo irônica) é: “Eu posso criar um Saci Pererê de duas pernas se eu quiser”. Sim, pode. Mas não será uma história de um Saci Pererê, porque esse personagem é caracterizado principalmente por ter uma perna só.
A autora utilizou dois universos diferentes e até então impenetráveis, no caso, o mundo dos vampiros e dos humanos. Nada mais é que uma releitura do clássico Romeu E Julieta, de Shakespeare, em que os Montecchio e os Capuleto eram inimigos, e o amor entre filhos dessas duas famílias seria praticamente impossível. O fim da trágica história conhecida mundialmente envolve o sacrifício tanto de Julieta quanto de Romeu, bem semelhante ao fim da Saga, em que Bella se torna uma vampira, abrindo mão de sua família humana para viver eternamente com o amado, assim como ele abre mão de sua vontade de mantê-la “viva” para finalmente se casarem.
O romance entre Isabella Swan e Edward Cullen representa, acima de tudo, um amor com divergências e obstáculos, temperado é claro pelo romantismo (meio afeminado) do vampirinho. Com esse clima de “felizes para sempre” o motivo da paixão dos dois é facilmente deixado de lado. Da parte dela, explicações são desnecessárias. Qualquer uma se apaixonaria por ele. Mas porque o vampiro foi se interessar por ela? Simplesmente porque, como citado no primeiro livro da Saga, ele não consegue ler a mente dela, ou seja, a cabeça misteriosa e inquieta dela (mascarada por uma certa lerdeza?) o intriga e faz com que ele se aproxime. E tem o sangue, que segundo o próprio enamorado sanguessuga, é o mais doce e cheiroso que ele já ousou sentir.
Provavelmente esse seja o motivo da saga atrair tantas meninas frustradas com amores não correspondidos. Muitas meninas (e até mulheres) que lêem ou assistem às obras suspiram nas demonstrações de afeto do branquelo gelado. Tudo bem. As mulheres são, por natureza, românticas e carentes, e ficam querendo sim ter um namorado após saírem da sala de cinema (E eu disse um namorado, e não um vampiro de verdade.)
As meninas jovens e sonhadoras querem encontrar um Edward pra elas, e estão fazendo de tudo para conseguir, inclusive se transformando na própria Bella, que por sinal é uma garota complexada, tímida, esquisita e sem expressão. A juventude ainda tem que aceitar que vampiros e lobos não existem, e se você for uma garota sem graça não vai conseguir muitas coisas além de sentimentos de pena.
Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer não passam de livros comuns, que devem ser usufruídos como meio de obter cultura e linguagem, mas que não deve ser tratado como algo espetacular, pois não passa de uma série de livros de auto-ajuda, que vão te mostrar (de uma forma muito fantasiosa) que você sempre encontrará seu príncipe encantado, seu vampiro gelado ou seu lobinho suado.
Boa sorte.
Laura França Nogueira, 18/07/10