Um apaixonado nunca esquece o primeiro contato com o amado. Nunca esquece os primeiros olhares. Ou os primeiros toques. As primeiras palavras... Na verdade, para um apaixonado é difícil esquecer cada momento, cada briga, cada reconciliação, e por mais que tente esquecer, o apaixonado também lembra do fim.
Foi na Barcelona dos anos 20 que eu cai em desgraça. Maldita hora que fui reparar num jovem da minha idade que estava sentado no balcão do café aonde entrei, e aonde todas as manhãs eu ia para ter a companhia de estranhos no café da manhã e não me sentir tão sozinha. Logo ao entrar eu vi aquela criatura branca como neve, usando roupas surrada e um par de sapatos desgastados. Bem como eu gostava... Isso se repetiu por dias a fio até que resolvi seguí-lo e descobrir seu esconderijo. E descobri. Mas só um mês depois tive a coragem e a desinibição de esperá-lo no portão de sua casa depois de sair do café. Esperei e esperei por quase 2 horas até o dono dos meus pensamentos chegar. Ele chegou. E riu pra mim, sem dizer nada. Abriu o portão enferrujado e fez sinal para que o seguisse.
A adrenalina, a curiosidade e a vontade de conhecer seus mistérios me fez obedecer. Entramos na casa e fomos para o andar de cima, numa sala similar à uma biblioteca pequena. Duas poltronas estavam diante de uma mesinha e da lareira, de costas para a porta, ele sentou, e eu, ao seu lado. Deu uma risada, me olhou e disse: "pensei que nunca viria", me acariciando no rosto. Foi nesse momento que eu percebi que nada seria clichê para nós dois. Conversamos até o anoitecer sem perceber o passar das horas, até que eu me assustei com o horário e me levantei para ir embora. Ele me segurou pelo braço e pediu que ficasse, que estava tarde e era perigoso. Deixei a vontade implacável tomar conta de mim e fiquei. Conversamos por mais algum tempo sentados no sofá até um silêncio bom ficar no ar. Encostei a cabeça em seu ombro, ele me abraçou, e assim dormimos a noite toda.
Isso se repetiu durante meses até que ficou tão estampado o sentimento recíproco de nós dois que nos entregamos aos nossos desejos mais profundos, irreveláveis até aquele momento. Foi tudo tão intenso, meu coração batia descompassado. Estavamos agora entrelaçados para a vida toda, foi consumado o nosso amor. Desde então eramos um só, tudo faziamos juntos, para ser melhor. Esse foi só o começo.
PS: esse é só o primeiro "capítulo" de um "mini-livro" que eu (Bruna) to escrevendo. Vou postando os capítulos aos poucos.
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